Em Pernambuco, 55%, ou seja, mais da metade das famílias chefiadas por mulheres negras sofrem com a insegurança alimentar. Os dados são da Pesquisa de Orçamento Familiares (POF 2017/2018). A renda média per capita das famílias chefiadas por mulheres negras é 25% menor do que a das famílias chefiadas por homens brancos.
A desigualdade de renda é uma das principais causas desse problema, mas não é a única. Fatores como a sobrecarga de trabalho e a falta de acesso a creches também influenciam na fome que ronda os lares liderados por mulheres negras. Esse é um dos achados da pesquisa Caminhos da Alimentação: o que chega à mesa das mulheres negras, realizada pela Gênero e Número, em parceria com a FIAN Brasil e com o apoio do Instituto Ibirapitanga.
É o caso de Conceição Mendes, 42 anos, uma das quatro mulheres negras chefes de família acompanhadas pelo projeto Caminhos da Alimentação.Sua única renda são R$ 700 do Bolsa Família – que até pouco tempo eram R$600.
Desse valor, ela usa R$ 150 para pagar a parcela do barraco onde mora e mais R$ 135 para comprar fraldas e remédios para dois de seus três filhos, de quem cuida sozinha. O que sobra é destinado à compra de alimentos – em sua maioria ultraprocessados – na barraquinha próxima a sua casa.
“Ainda que famílias chefiadas por mulheres negras do Nordeste sejam as principais impactadas pela insegurança alimentar, a região tem uma cultura alimentar rica em alimentos in natura ou minimamente processados, que compõem a maior parte da cesta (55%), enquanto alimentos ultraprocessados a menor (14%). Nosso objetivo é compreender como essa variedade contrasta com um imaginário social fora do Nordeste, que associa a região à fome e à pobreza”, Vitória Régia da Silva, diretora de conteúdo da Gênero e Número e uma das coordenadoras do projeto.
Caminhos da Alimentação: o que chega à mesa das mulheres negras
Lançado em março de 2024, Caminhos da Alimentação é um projeto multimídia que acompanhou a rotina de quatro mulheres negras chefes de família de Pernambuco para retratar as complexidades que influenciam o que chega à mesa delas, que representam o maior grupo demográfico do Brasil. O cotidiano alimentar e de vida delas foi transformado em dados, que revelam que a segurança e a insegurança alimentar entre as mulheres negras envolve diversos fatores sociais, como sobreposição de jornadas de trabalho, renda, acesso a transporte e saúde.
“A partir do levantamento e da análise de grandes e pequenas bases de dados, entrevistas com especialistas e das histórias de Gercina, Claudecir, Conceição e Lindalva, queremos posicionar as mulheres negras nordestinas no centro do debate pelo acesso à comida de verdade. Buscamos humanizar esses dados e reforçar a importância que a perspectiva de gênero, raça e território não deve ser um recorte, mas a base das políticas públicas de combate à fome no nosso país”, destaca Vitória Régia da Silva, diretora de conteúdo da Gênero e Número e uma das coordenadoras do projeto.
Sobre a Gênero e Número – A Gênero e Número é uma associação de mídia independente que produz, analisa e dissemina dados especializados em gênero, raça e sexualidade em diferentes formatos. Com linguagem gráfica, conteúdo audiovisual, pesquisas, relatórios e reportagens multimídia, informa uma audiência interessada no assunto para impulsionar o debate sobre equidade e embasar discursos de mudança.