Adellmo dos Passos, natural de Recife, do bairro do Beberibe, é um artista pernambucano que busca manter vivo o universo imaginário do Nordeste brasileiro, reverenciando-os em suas músicas. Ainda na escola, Adellmo adentrou o mundo artístico a partir da encenação teatral, que logo despertou sua paixão pela escrita e pela poesia, dando o pontapé para o surgimento de suas primeiras canções. Foi então que ele se inscreveu em um festival de música populoso de Casa Amarela, ficando em terceiro lugar e abrindo caminho para seus primeiros shows profissionais.
Considerado um artista de “ciclo”, Adellmo foge dos lançamentos rotineiros, dando preferência por celebrações e temporadas mensais. Neste ciclo junino, ele viu a oportunidade de inaugurar seu novo trabalho, “Corisco, Lampião e Azulão: pra tremer o chão”, que encara como um diferencial nas músicas lançadas até agora para o mês de junho. O título faz alusão a personagens muito conhecidos do Cangaço, paixão que para ele surgiu desde criança, e menciona o cantor caruaruense Azulão, que hoje é Patrimônio Vivo do município. Além dessas referências, ele dá enfoque a elementos da raiz musical pernambucana, buscando se manter como um artista que preserva as origens do que hoje conhecemos como o forró.
“Para essa nova música, os primeiros versos vieram quando eu estava na BR-232. De Gravatá até Caruaru só saía ‘Eu vi a terra tremer na cidade de Caruaru / sacudiu levantou poeirão / Corisco, Lampião e Azulão, fazendo forró‘”, comenta Adellmo sobre o processo de criação da música. “Pra ser diferente, eu fui na raiz e despertar do ritmo do Baião e na linguagem de onde tudo começou”, completa.
Tendo iniciado o esboço em fevereiro de 2023, a música ganhou forma por completo apenas em fevereiro deste ano. A letra traz de início a localização geográfica e o fenômeno geológico que vez ou outra acontecem na cidade de Caruaru: os tremores de terra (pra tremer o chão). Além de elementos linguísticos, Adellmo cita como fonte de inspiração figuras e costumes do sertão pernambucano, que considera como fundamentais para a preservação do “nordeste raiz”:
“Luiz Gonzaga é a base. Mas há também os costumes tão originários do povo do nordeste, como a gastronomia e ritmos como o Xaxado, difícil de se ouvir hoje em dia.”
É dessa dificuldade que ele destaca a perda de espaço de ritmos predominantes do forró no São João de Caruaru. Para ele, o problema surge do ponto de vista econômico, visto que o patrocínio em grande parte está voltado para ritmos importados do sudeste, como o pagode, sertanejo e funk, de acordo com o consumo geral do público: “O elo e a base de apoio está na Internet… Artistas como Pabllo Vittar, Alok, são talentos fenomenais, mas vale também a necessidade sobre as visualizações de Jorge de Altinho ou outro artista qualquer que seja nordestino”, comenta Adellmo.
Como artista independente, Adellmo acredita que é possível resgatar a tradição fortalecendo a presença em espaços públicos: “Agora é preciso novamente esse trabalho de formiguinha, o que Gonzaga fez eu me proponho a fazer: tocar nas feiras livres, nos mercados, na rua, para que o povo tenha contato de novo com a sua real tradição”, ressalta.
“Corisco, Lampião e Azulão: pra tremer o chão”, traz como principal mensagem a necessidade de recuperação desse contato, para que haja um despertar da população caruaruense acerca da riqueza que nutre essa cultura. Para Adellmo dos Passos, existem muitos descendentes de Lampião pelo Nordeste, ainda que em sua forma contemporânea:
“Hoje tem muito Lampião aí pelo Nordeste, são muito modernos, mas não perderam a força de lutar pelo seu espaço e sua cultura. E, lógico, devido ao acesso à informação, a violência que se tinha na época como tema hoje foi trocada por respeito às leis e a ordem social, mas a origem do valente homem do nordeste não se perde”, conclui ele.
Ouça a música aqui.
Parabéns pelo belo trabalho fortalecendo a cultura de país Adellmo do passinho de Olinda 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽A cidade do povo cultural ❤️❤️❤️❤️ Lilia