Se um dia a presença feminina na cultura popular já foi proibida, o palco do País das Culturas Populares de hoje provou que essa é uma realidade que ficou presa ao passado. O protagonismo feminino nas diferentes culturas populares e a potência de tradições pernambucanas foram o destaque deste sábado no palco-caminhão .
O palco teve programação durante todo o dia com representantes da cultura de boi, do bacamarte, afoxé, caboclinhos, pífano e ciranda. A diversidade e a riqueza da cultura pernambucana esteve representada durante todo o dia. De manhã, o Boi Mimoso de Caruaru e pela Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo de Santo Agostinho.
“Fizemos esse cortejo pelas ruas de Caruaru, cidade dos bacamarteiros, e ficamos muito felizes de poder estar nesse lugar onde tudo começou. Foi lindo.”, disse Ivan Marinho, membro da Sobac. Já Igor Glauco, vice-presidente do Boi Mimoso de Caruaru, destacou a importância da tradição da cultura de boi no Estado. “A tradição do boi aqui vem desde o tempo da escola de samba da minha mãe, que quando acabou o carnaval não tínhamos com o que brincar e criamos o boi para poder brincar o ano todo”, explicou.
De tarde, o Afoxé Oxum Pandá iniciou os trabalhos com beleza e a ancestralidade do ritmo. De origem vinculada ao movimento negro de Olinda, o Afoxé Oxum Pandá nasceu em 1995, por uma iniciativa do babalorixá Genivaldo Barbosa Lemos, após anos de contribuição e militância no Afoxé Alafin Oyó. Foi de uma consulta através dos búzios aos Orixás que, Oxum Pandá (divindade guerreira da beleza, riqueza e amor) se apresentou como patrona da nova entidade.
Em seguida, o Bloco de Caboclinhos do Sítio Melancia de João Alfredo, tradicional grupo que mantém viva a força dessa cultura indígena do Agreste de Pernambuco. A terceira atração do dia foi o grupo vocal feminino Encantaria, evocando a força da mulher e a beleza rítmica por meio da voz. “É um prazer imenso estar nesse primeiro ano de festival, foi um show lindo com muito axé e esperamos voltar mais vezes pra esse festival que foca no espaço para a artista local”, destacou Marcela Souza, vocalista do Esncantaria.
Vitória do Pife, um dos nomes mais interessantes da nova cena autoral de Pernambuco, encerrou o dia do palco com um show que demonstra o norte de sua carreira: respeita a tradição do pífano, instrumento característico da cidade e que ela escolheu com seu, ao mesmo tempo que aponta para o futuro ao unir elementos pop com regionais.
Desde o primeiro momento em que pisou no País das Culturas Populares, a artista domina o palco com o som do pife e com sua presença bem humorada. Apesar de jovem e de ter uma carreira musical recente, Vitória já conta com um repertório afinado e coeso. Natural do bairro do Salgado, o mais populoso munícipio de Caruaru, Vitória estava literalmente em casa. Totalmente confortável, a jovem convidou sua irmã para uma participação no show e teve seus pais e avós na plateia.
Com uma banda afinada, Vitória demonstrou porque é uma mestra no instrumento com canções autorais, e versões de músicas clássicas do cancioneiro pernambucano. “Eu tô energizada, fiquei muito feliz de estar na programação desse festival. Precisamos de mais festivais como esse para dar voz ao povo de Pernambuco”, disse a cantora.