Incluir as comunidades e população quilombola no debate acerca das políticas climáticas e ambientes é o principal intuito do projeto ‘Mulheres Quilombolas Rumo à COP-30’, que teve início no último fim de semana, no Espaço Multicultural Dona Mira, na Comunidade Estivas, em Garanhuns (PE). Este foi o início de um ciclo formativo, promovido pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC) e pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). A ação irá passar por todas as regiões do país, totalizando cinco formações que buscam trabalhar temas presentes durante a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), que acontece em novembro de 2025, em Belém (PA).
Todo o arcabouço programático foi escolhido em conjunto com as participantes e conduzido por mulheres especialistas e ativistas em políticas climáticas, ambientais, relações internacionais e direitos humanos. Os seguintes assuntos foram abordados na formação: “Política Climática Internacional e COP 30: caminhos para incidência efetiva”, com Lídia Lins; “Soluções para a crise climática baseadas no capital: como reconhecer ameaças e oportunidades”, com Julia Stefany; e “Programa de Proteção para Defensores de Direitos Humanos e Acordo de Escazú: Proteção para as defensoras da terra e território”, com Alice Piva.
O encontro reuniu ainda mulheres de quilombos de diversos estados do Nordeste, além da comunidade local. “Entendo que esse momento é oportuno para que a gente possa ter mais conhecimento, diante daquilo que a gente já faz, que é preservação do meio ambiente. Então foi um momento de troca de experiências, em que as comunidades quilombolas do Nordeste se reúnem e vêm juntas somar em uma discussão política que atinge não apenas os quilombos do Brasil, mas se apresenta a nível mundial. Estamos aqui discutindo esses temas para nos apropriarmos melhor deles e discutir também a nível mundial a importância da preservação do meio ambiente, dos territórios, das comunidades tradicionais e de toda a população”, destaca a liderança Xifroneze Santos, da Comunidade Caraíbas, que fica no município de Canhoba (SE).
A líder da Associação de Moradores da Comunidade Estivas, Michele Romeira, fez um balanço dos três dias de formação realizados no território onde reside. “Queria agradecer a todos por estarem aqui, para nós da comunidade é um momento muito histórico e de muita importância. Pois a gente está falando sobre políticas climáticas e somos todos guardiões da natureza, da floresta e dos rios. Além disso, falamos em pensar no cultivo e cuidado de alimentos sem produtos e sem venenos. Tudo isso é de grande relevância para nós que somos quilombolas e lutamos por melhorias para a população de negros e negras”, completa.
Ao fim do processo educacional, as participantes se demonstraram preparadas e com maior propriedade sobre os temas debatidos durante as aulas. Como contrapartida, deverá ser apresentado um plano de ação em incidência política baseado nos tópicos abordados durante os encontros, no prazo de até 30 dias. Esta estratégia busca influenciar diretamente a tomada de decisões, de forma coletiva e organizada, para que possam ser promovidas mudanças nos territórios das mulheres participantes. “O objetivo principal é chegar a um plano de ação conjunto das mulheres quilombolas do Nordeste, que será um instrumento participativo muito importante para as futuras negociações. Por meio dele será possível interferir nas decisões que vão impactar diretamente a vida destas mulheres e em suas respectivas comunidades. Só assim é possível formular políticas públicas que sejam favoráveis e ajudem os territórios a enfrentar as mudanças climáticas. Agradecemos muito por essa acolhida tão respeitosa e afetiva de Garanhuns e das comunidades quilombolas. A gente tá aqui para potencializar a luta por justiça climática, o combate ao racismo ambiental e com certeza potencializar a luta dessas mulheres. Por isso que elas estão aqui e por isso que a gente está aqui”, complementa a Coordenadora do eixo de Educação Climática do CBJC, Anne Heloíse.
A partir de ações como esta, o CBJC tem atuado para responder e combater desigualdades oriundas da crise climática junto à população negra nos territórios mais afetados. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 7,6 mil comunidades quilombolas, localizadas em 1,7 mil municípios, sendo a maioria destas no Nordeste.
CBJC – O Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC) é uma organização nacional da sociedade civil dedicada às temáticas da população negra na agenda climática. A sua missão é ampliar o debate público e influenciar políticas públicas de justiça climática e equidade racial a nível local, regional, nacional e internacional.
CONAQ – Trata-se de uma organização de âmbito nacional, sem fins lucrativos, que representa a maioria dos(as) quilombolas do Brasil. Da CONAQ participam representantes das comunidades quilombolas de 23 estados da federação. Os objetivos da coordenação são lutar pela garantia de uso coletivo do território, pela implantação de projetos de desenvolvimento sustentável, pela implementação de políticas públicas levando em consideração a organização das comunidades de quilombo; por educação de qualidade e coerente com o modo de viver nos quilombos; o protagonismo e autonomia das mulheres quilombolas; pela permanência do (a) jovem no quilombo e acima de tudo pelo uso comum do Território, dos recursos naturais e pela em harmonia com o meio ambiente.