Mais da metade das mulheres brasileiras já teve ao menos um episódio de candidíase ao longo da vida. É o que aponta uma pesquisa realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), segundo a qual 59% das brasileiras relataram já ter enfrentado vaginose bacteriana ou infecção fúngica.
No cenário mundial, o impacto também é expressivo: de acordo com dados do Núcleo de Telessaúde Santa Catarina (2022), a candidíase acomete aproximadamente 138 milhões de mulheres todos os anos, com prevalência global estimada em 7% entre aquelas com idade entre 15 e 54 anos.
Trata-se de uma infecção causada por um fungo que habita naturalmente o corpo humano, mas que, em determinadas condições, pode se multiplicar de forma excessiva e provocar sintomas incômodos, como coceira, ardência e corrimento esbranquiçado.
Embora muitas vezes seja erroneamente associada apenas à vida sexual, a candidíase vai além da intimidade e pode surgir em diferentes fases, como durante o período menstrual — e também pode afetar os homens.
O que nem sempre é percebido é que o emocional também exerce grande influência no surgimento e na recorrência da doença. Situações de estresse, ansiedade ou queda na imunidade criam condições ideais para a proliferação do fungo Candida albicans, desencadeando os sintomas.
Segundo o ginecologista da Hapvida, André Buarque Lemos, corpo e mente estão diretamente conectados nesse processo. “Quando a pessoa enfrenta períodos prolongados de estresse, o organismo passa a liberar hormônios como o cortisol, que reduzem a eficiência das defesas naturais do corpo. Esse desequilíbrio abre espaço para a proliferação da Candida, que encontra assim o terreno favorável para o desenvolvimento”, detalha o especialista.
A flora vaginal, por exemplo, precisa estar equilibrada para proteger a região íntima. No entanto, o excesso de ansiedade pode comprometer esse equilíbrio, aumentando a produção de glicogênio vaginal — substância que serve de alimento para o fungo.
Os impactos emocionais não se limitam ao sistema biológico. Em momentos de ansiedade intensa, é comum recorrer a hábitos que favorecem o surgimento da infecção, como o consumo excessivo de açúcar ou até mesmo a automedicação.
Para o psicólogo clínico Mateus Mendonça, compreender esse ciclo é fundamental. “A candidíase pode ser vista como um sinal de que o corpo e a mente estão sobrecarregados. Quando o abalo emocional se torna constante, ele prejudica a imunidade e aumenta a chance de recorrência do fungo”, aponta o profissional.
Embora os antifúngicos sejam amplamente utilizados, o uso contínuo desses medicamentos não é o mais recomendado. O tratamento deve envolver, principalmente, mudanças no estilo de vida.
Medidas simples podem reduzir os riscos de recorrência: evitar roupas íntimas sintéticas, preferir calcinhas de algodão, manter uma alimentação equilibrada e, sobretudo, adotar práticas de relaxamento. Exercícios físicos, meditação, yoga e apoio psicológico são importantes aliados nesse processo.
O ginecologista André Buarque reforça que “lidar com a candidíase vai além de apenas controlar o fungo; é preciso fortalecer o corpo por completo. Isso significa dar atenção à saúde da mente, visto que ela influencia diretamente o bem-estar íntimo.” Dessa forma, entender a ligação entre sentimentos e a candidíase é fundamental para que ambos os sexos consigam encarar não só os sinais, mas também as origens mais intrínsecas desse problema tão frequente.