Ansiedade em relação ao futuro, dificuldade para tomar decisões, excesso de estímulos, novas tecnologias, comparação constante nas redes sociais, adultização precoce — temas que têm ganhado destaque nas últimas semanas. Cada vez mais, crianças e adolescentes enfrentam desafios emocionais e sociais que, antes, eram comuns apenas na vida adulta.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 14% das crianças e adolescentes de 10 a 19 anos no mundo apresentam algum tipo de transtorno mental. Outras pesquisas indicam que os casos de ansiedade nessa faixa etária já superam os registrados entre jovens adultos, além de apontarem uma maior probabilidade de suicídio. Essa realidade exige atenção conjunta dos serviços de saúde, das escolas e das famílias.
Para a psicóloga do Colégio Salesiano Recife, Sabrina Cirne, é essencial que a formação desses jovens vá além dos conteúdos escolares e envolva, desde cedo, temas como autoconhecimento, propósito, escuta ativa e saúde emocional. “Durante a infância e a adolescência, a neuroplasticidade é mais intensa, o que torna esse período crucial para a aprendizagem de habilidades sociais, emocionais e cognitivas”, explica.
“O estímulo desses aspectos contribui para que o jovem saiba lidar com situações desafiadoras, construa relacionamentos saudáveis e elabore sua identidade, aprendendo a compreender a si mesmo, identificar e expressar adequadamente suas emoções, suas necessidades e limites, explorar seus interesses e se comunicar de forma eficaz”, complementa.
Dicas para os pais – A psicóloga destaca ainda a importância de conversar sobre sonhos, valores e possibilidades de forma acessível e afetiva. “Os responsáveis precisam olhar para dentro de si e também buscar seu autoconhecimento, para criar um ambiente seguro de escuta ativa, diálogos construtivos e oportunidades de reflexão”, afirma.
É essencial a presença nas vidas dos filhos com momentos de qualidade, interagindo sem distrações, escutando, acolhendo e tentando se aproximar das experiências deles de forma a compreendê-los e dar suporte para serem quem são. “A participação em atividades como artes, esportes, leituras, filmes e jogos são também instrumentos que poderão ajudar a mediar a relação com o outro e o processo de autoconhecimento, pois possibilitam sair da zona de conforto e descobrir coisas novas”, finaliza.
O papel da escola
Nesse processo, a escola também desempenha um papel central. Os estudantes do Colégio Salesiano Recife participam do Projeto de Vida e da Educação Socioemocional, que incluem rodas de conversa, oficinas de escuta, pesquisas de carreira, visitas a universidades e atendimentos individuais ou em grupo. O objetivo é oferecer a cada jovem um espaço para refletir sobre suas escolhas e desenvolver empatia, pensamento crítico e responsabilidade social.
Para Lucas Vagner, educador do ensino médio e do componente curricular Projeto de Vida do colégio, esse é um espaço vivo de experiências, encontros e construção de sentido do ser. “Em um mundo conflituoso, marcado por crises sociais, ambientais e existenciais, cabe também à escola favorecer a tomada de consciência e o autoconhecimento, possibilitando que cada estudante perceba seu papel no mundo de forma ativa”, afirma.
Inspirado nos ensinamentos de Dom Bosco, o Salesiano Recife aposta em uma pedagogia que valoriza o protagonismo juvenil. “O aluno aprende a lidar com suas emoções, mas também a perceber o outro com mais profundidade, respeitar as diferenças e se posicionar de forma ética e responsável no mundo”, complementa Lucas.