Câncer de mama, esôfago, intestino (cólon e reto), estômago, fígado e rins são alguns dos 13 tipos de cânceres que estão associados à obesidade, segundo o Ministério da Saúde. Além desses, o câncer de pâncreas, vesícula biliar, ovário, endométrio, meningioma, tireoide e mieloma múltiplo também são influenciados pela comorbidade.
Segundo a Cristiana Tavares, oncologista do Hospital Santa Joana Recife, da Rede Américas, a obesidade é um dos principais fatores de risco modificáveis para o câncer de mama, especialmente em mulheres pós-menopáusicas; além disso, a comorbidade influencia no tratamento, na resposta terapêutica e no prognóstico. “A obesidade modifica a farmacocinética, resposta tumoral e toxicidade das terapias. Assim, pacientes com IMC elevado apresentam pior resposta à quimioterapia e hormonioterapia, maior risco de complicações cirúrgicas e anestésicas, menor precisão na dosagem de fármacos (por cálculo baseado em peso ideal ou área de superfície corporal subestimada) e maior inflamação sistêmica, que pode reduzir a eficácia de terapias-alvo e imunoterapias”, explica Cristiana.
Além disso, o IMC elevado aumenta de forma consistente o risco de recorrência de câncer de mama. “Quando falamos em risco de recidiva, a obesidade atua especialmente nos subtipos hormonais positivos (luminal A e B) e em mulheres pós-menopáusicas. Vale lembrar que esse efeito é multifatorial e envolve alterações hormonais, metabólicas, inflamatórias e farmacológicas que favorecem a persistência ou reativação de células tumorais residuais”, diz a especialista.
A obesidade é considerada uma condição multifatorial, que exige uma abordagem integral, equilibrando alimentação balanceada, acompanhamento médico, suporte psicológico, medicamentos e, a depender de alguns casos, cirurgia bariátrica. “O tratamento da obesidade e do sobrepeso está sendo cada vez mais reconhecido como uma estratégia ativa de prevenção do câncer de mama, especialmente na fase pós-menopausa e em subtipos luminais (ER/PR positivos). Hoje, o controle do peso é considerado parte da medicina preventiva oncológica, não apenas estética ou cardiometabólica”, afirma a oncologista.
Durante o último Congresso Americano de Oncologia (ASCO 2025), o maior e mais prestigiado encontro de oncologia clínica do mundo, especialistas de diversos países discutiram os efeitos da obesidade e sobrepeso na incidência e prognóstico de diversos tumores, com destaque para um estudo que analisou o impacto de medicamentos emagrecedores, como semaglutida e tirzepatida, popularmente conhecidos como canetas emagrecedoras, na prevenção e prognóstico de certos tipos de câncer.
“Nos últimos estudos apresentados na ASCO 2025, nós podemos ver como as canetas emagrecedoras (semaglutida, liraglutida e tirzepatida) têm um papel crescente não apenas no controle de peso, mas também na redução de risco de doenças associadas à obesidade, incluindo o câncer de mama”, observa Cristiana Tavares. Tradicionalmente, a prevenção do câncer de mama foca no rastreamento com mamografia e ultrassonografia, terapias redutoras de risco e fatores reprodutivos/hormonais. Porém, atualmente, uma nova frente emerge: a oncologia metabólica. “Na oncologia metabólica, há o manejo do metabolismo e da adiposidade [excesso de gordura no organismo] corporal baseada em evidências robustas de que a obesidade e o sobrepeso são fatores casuais e modificáveis, e é nesse contexto que a canetas emagrecedoras, quando bem prescritas e com acompanhamento multidisciplinar, podem beneficiar na prevenção de diversos cânceres, especialmente o câncer de mama”, finaliza.
No Brasil, um a cada três brasileiros, ou seja, 31%, tem obesidade; e 68% da população tem excesso de peso, segundo dados do Atlas Mundial da Obesidade 2025, da Federação Mundial da Obesidade. Ainda de acordo com o levantamento, a porcentagem tende a crescer nos próximos cinco anos, o que coloca como ponto de preocupação o aumento no desenvolvimento de tumores na população brasileira.
