“Eita, flow da peste!” É assim que os ‘manos e minas’ do Hip Hop pernambucano costumam elogiar os artistas que mandam ver nas rimas. Agora, a exclamação vem acompanhada por uma bebida para brindar aos rimadores: a cachaça artesanal Flow da Peste. Uma ‘misturada’ de frutas tropicais que vem fazendo a mente da galera que ‘cola’ nos bailes de rap da Região Metropolitana do Recife (RMR).
A Flow da Peste não ganhou esse nome por acaso. A bebida é criação de um rimador de primeira qualidade, Leonardo Macena, um dos fundadores do célebre grupo pernambucano Pregadores do R.E.P. Fazer a cachaça e distribuir aos amigos era um hobby de Léo e não havia pretensão de ir além disso até que o artista foi surpreendido por duas tragédias: a pandemia do novo coronavírus, em 2020, e as fortes chuvas que assolaram a RMR em maio deste ano de 2022, deixando mais de 100 mortos e milhares de desabrigados.
A pandemia fez o pernambucano abrir um pequeno comércio na própria casa, à época localizada no Jardim Monte Verde, divisa entre o Recife e Jaboatão dos Guararapes. No balcão da ‘venda’, ele oferecia ‘quartinhos’ com a bebida – que logo ganhou o apelido de “suquinho”. Já com a chegada das chuvas, em maio de 2022, e o trágico deslizamento de uma barreira em sua comunidade, que deixou sua casa e estabelecimento interditados, o rapper precisou de outra alternativa para sobreviver ao caos e a encontrou na cachaça. “Perdi um monte de gente na rua. Graças a Deus sobrevivi e senti a necessidade de vender a bebida porque eu fiquei sem fonte de renda. Foi uma saída do buraco e tá dando certo”, diz.
O flow da artesanal
Léo vem estudando a ‘alquimia’ da Flow da Peste, de forma autodidata, há cerca de cinco anos. A ‘misturada’ leva frutas como goiaba, manga, melão e abacaxi, entre outras, que passam cerca de 15 dias apurando na cachaça. Na hora de engarrafar, a bebida recebe uma pitada de mel e frutas frescas, que dão um sabor a mais quando o cliente seca a garrafinha e pode consumi-las. São necessários cerca de R$ 70 para a fabricação de 20 unidades do produto e, de acordo com Macena, seu lucro com as vendas sai em torno de 80%.
Essas vendas, a propósito, também são feitas de maneira, porque não dizer, artesanal. Léo mapeia os eventos de rap que acontecem na RMR, coloca uma quantidade de garrafinhas da Flow da Peste em sua mochila e sai para vendê-las nas festas. Uma lista de transmissão criada no WhatsApp também ajuda na divulgação do paradeiro do vendedor da cachaça, bem como para encomendas. Atento ao sucesso da bebida e munido de seu espírito empreendedor, o produtor da cachaça quer, agora, expandir os negócios e encontrar parceiros para revendê-la em pontos físicos.
Para tanto, ele já tem engatilhadas novidades para a ‘família’ da Flow, que hoje pode ser encontrada em três tamanhos – as de 300ml; de 500 ml, batizadas como Notorious Big, em homenagem a uma das maiores lendas do rap norte-americano; e as de 1 litro, chamadas de Honele Gordão Chefe, do Conexão Hip Hop Pernambuco. Em breve, estarão na rua uma cachaça de frutas vermelhas; e a de vinho – que será chamada de Sexta do Alegre, por sugestão do rapper Tiger, do Sistema X e ex-Faces do Subúrbio -, uma brincadeira com o tradicional vinho Quinta do Morgado.