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Instituto Ricardo Brennand recebe a exposição “Pancetti: o mar quando quebra na praia…”

Instituto Ricardo Brennand recebe a exposição “Pancetti: o mar quando quebra na praia…”

  • Cultura

O Instituto Ricardo Brennand, na Várzea, fecha sua agenda de exposições de 2024 com uma nova mostra no espaço, Pancetti: o mar quando quebra na praia…, aberta para visitação a partir desta quarta-feira (11) até 16 de março de 2025. A mostra ocupará um dos espaços nobres do centro de arte da Várzea, a Sala da Rainha, que integra à pinacoteca, com mais de 40 obras que revelam a importante trajetória artística do pintor brasileiro, José Pancetti com seus representativos traços do modernismo brasileiro, entre 1930 e 1945.

E para levar a real dimensão de quem foi este artista nascido em Campinas, São Paulo (1902-1958) e com grande interesse pelo nordeste brasileiro, a iniciativa que conta com uma rica produção artística exibindo Marinhas, Retratos, Naturezas – Mortas, Paisagens, que sempre nos remetem diretamente ao mar, tanto por sua obra, quanto pela profissão de marinheiro exercitada por Pancetti. A exposição em pauta já ocupou, com sucesso de público e crítica, a Casa Fiat, em Belo Horizonte e o Farol Sandander, em São Paulo.

José Pancetti – Auto-vida, 1945

Pancetti é visto pelos estudiosos de sua arte como um pintor singular em seu estilo, de formação quase autodidata, embora tenha circulado em meio de grandes influências artísticas. As obras do artista exibidas agora, pela primeira vez no Recife, foram produzidas entre 1932 e 1956.  

Pancetti: O mar quando quebra na praia…. tem a curadoria de Denise Mattar. “Essa seleção permite ao espectador apreciar as diversas facetas de Pancetti através de um conjunto de obras que nunca estiveram reunidas, até essa exposição”. O Instituto Ricardo Brennand oferece, portanto, oportunidade aos pernambucanos de conhecerem melhor o artista e sua obra, sua arte”, diz Mattar. Para esse desafio, em reunir a obra do artista a curadora lançou mão de coleções particulares, obras pertencentes à instituições parceiras, como: Acervo Museu de Arte Brasileira – MAB FAAP – São Paulo, Coleção Nilma Pancetti, Rio de Janeiro, Coleção Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Instituto Casa Roberto Marinho, Rio de Janeiro, Acervo Banco Itaú, entre outros.

Ela lembra que as Marinhas são a faceta mais conhecida de Pancetti. Na exposição surgem como registros dos seus primeiros trabalhos incluindo barcos e construções, registros austeros de diferentes pontos do litoral brasileiro, o intenso cromatismo e a composição diagonal do período baiano, e obras sintéticas, nas quais a economia da composição beira o abstrato.

“O encontro entre o mar e a areia é um tema constante na sua obra, que ele retratou ao longo de sua vida com profunda emoção. Essa conexão também encantava seu amigo Dorival Caymmi, que cantava com sua voz profunda: “o mar, quando quebra”, aplica a curadora, em alusão à canção que dá título à exposição. 

A exposição Pancetti: O mar quando quebra na praia… é uma realização do Ministério da Cultura e do Instituto Ricardo Brennand, e conta com a produção da MG Produções Culturais e dos patrocinadores Cimento Nacional, Bradesco, Sul América, Rede Dor, Ferreira Costa, BRITVIC, Internacional Materials

Um Instituto de acervo singular

O Instituto Ricardo Brennand abre suas portas para a obra de Pancetti como um dos principais centros culturais do Brasil, oferecendo aos pernambucanos essa agenda cultural para os próximos meses. Fundado em 2002, o InstitutoRB tem, ao longo dos anos, se consolidado como um polo cultural de grande relevância, promovendo exposições, eventos e atividades educativas que já atraíram mais 3,5 milhões de visitantes de todo o Brasil e do mundo desde sua inauguração. Em 2014 e 2015, o TripAdvisor elegeu o InstitutoRB como o melhor museu da América do Sul e o 17º do mundo. Já em 2017, foi eleito o melhor museu do Brasil no prêmio Traveler’s Choice Award, divulgado anualmente pela plataforma TripAdvisor.

Seu valioso acervo artístico e histórico é originário da coleção particular do saudoso Ricardo Brennand e está distribuído num complexo cultural que compreende a Pinacoteca, o Museu Castelo São João, a Galeria, a Biblioteca, o Parque de Esculturas dos Jardins e a Capela Nossa Senhora das Graças. Erguido em formato de um castelo medieval, tem movimentado sempre uma programação em torno do seu acervo e registros dos tempos atuais.

As obras expostas da exposição no InstitutoRB:

“Pancetti retratou amorosamente a nossa gente, a nossa luz e o nosso mar.”

(Denise Mattar – Curadora)                                        

Auto Vida (1945):  óleo sobre tela, 65 x 54 cm, coleção Gilberto Chateaubriand (MAM Rio): Obra emblemática, na qual o artista mescla realidade, imaginação e ironia. Na obra ele aparece usando o uniforme de marinheiro, com o quepe do navio Rio Grande do Norte, segurando o livro Ismos, apresentando-se assim como marinheiro e pintor. O artista circulava entre dois mundos diversos, o cotidiano simples, da Marinha, que o lembrava de sua origem humilde e o sofisticado mundo das artes plásticas.

Retrato de Francisco (1945): óleo sobre tela, 46,5 x 38,5 cm, coleção MAM São Paulo – Doação Carlo Tamagni, 1967. Revela um menino negro tendo ao fundo a paisagem de um morro em São João del-Rei, cidade na qual Pancetti viveu em 1945. A figura ocupa quase a totalidade da tela, e fica clara a ternura e a delicadeza com que o artista retrata a criança, com olhar doce e ingênuo. O artista pintou, no mesmo ano, uma outra versão desse retrato conhecida como “Menino Bom”.

O Chão (1941): óleo sobre tela, 61,5 cm x 81 cm, coleção Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Com a obra O Chão, Pancetti recebeu o cobiçado Prêmio de Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Belas Artes de 1941, ano no qual pela primeira vez houve a chamada Divisão Moderna. Foi o reconhecimento público de um artista autodidata que, por pouco tempo, frequentou o Núcleo Bernardelli, no Rio de Janeiro.

Praça Clóvis Bevilacqua (1949): óleo sobre tela, 35,7 x 44 x 5 cm, coleção Orandi Momesso, São Paulo. Praça Clóvis Bevilacqua, das janelas do Palacete Santa Helena, local onde os artistas, Volpi, Rebolo, Mário Zanini, Manoel Martins, entre outros, dividiam o ateliê. A tela coloca em primeiro plano, com certa singeleza, a igreja da praça, enquanto ao fundo ficam visíveis as inúmeras e tristes chaminés fumegantes das fábricas paulistanas.

Floresta, Campos de Jordão, SP (1944): óleo sobre tela, 39 x 46,5 cm, Acervo Museu de Arte Brasileira – MAB FAAP, São Paulo. Pancetti esteve algumas vezes em Campos do Jordão, um dos motivos era sua saúde, pois na época a região era considerada muito adequada para tratamento de doenças nos pulmões. O artista pintou muitas vistas da cidade, mas são especialmente frequentes seus registros das florestas, nas quais fazia longas caminhadas.

Pescadores (1956): óleo sobre tela, 26 x 40,2 cm, coleção Nilma Pancetti, Rio de Janeiro. Essa obra incomum na produção de Pancetti, retrata a pesca do xaréu, corriqueira nas praias de Salvador nos anos 1950. A atividade exigia força e ritmo, criando quase uma coreografia, apreciada pelos artistas, e muito retratada nos desenhos de Carybé, nos livros de Jorge Amado e nas fotos de Pierre Verger.

Série Bahia (1951): óleo sobre tela, 46,2 x 55,1 cm, Instituto Casa Roberto Marinho, Rio: Na pintura Série Bahia, 1951, Pancetti frequentemente capturava a linha violácea que emerge entre o céu e o mar ao pôr do sol. No entanto, nesta obra em particular, ele adota uma abordagem mais marcante. A variedade de tons, que vão do rosa ao roxo, parece ser uma expressão da exuberância da Bahia, refletida nesta obra vibrante. 

Lagoa do Abaeté (1952): óleo sobre tela, 38 x 54,5 cm, coleção Marcos Ribeiro Simon, São Paulo:A descoberta da Lagoa do Abaeté, com suas águas escuras, a areia branca e a festa colorida dos panos das lavadeiras, foi outro momento de encanto intenso para o artista, onde se intitula a obra, como relata Aloysio de Paula: “Sua luz se enriquece e adquire poder e intensidade como nunca ele a exibirá. Tudo canta no Abaeté. Seus verdes são mais verdes, os vermelhos mais vermelhos”.

Paisagem de Itapuã (1953): óleo sobre tela, 38 x 55 cm, coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio: Paisagem de Itapuã, 1953, um fato significativo sobre a obra de Pancetti onde o trabalho do artista foi o quadro inicial de três das mais importantes coleções de arte do Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand (Paisagem de Itapuã, 1953), Coleção Sergio Fadel (Praia em Cabo Frio, 1947) e Coleção Roberto Marinho (O Boneco,1939). A coincidência não parece ser um acaso, pois o temperamento solitário e do artista permitiu o surgimento de uma obra que tem o dom de comover.

Itapuã, série Bahia (1956): óleo sobre tela, 46 x 65 cm, coleção particular, Salvador: Itapuã, oferece um ângulo incomum ao retratar árvores, que não se concentra tanto em exibi-las na verticalidade completa, mas sim capturá-las ao nível do olhar em um corte fotográfico. Isso é evidente ao comparar com sua obra Floresta, 1944, pintada em Campos do Jordão, onde destaca as distintas qualidades de luz e cor de cada local.

Coqueiros de Itapuã (1956): óleo sobre tela, 45,4 x 64,4 cm, coleção Santander Brasil:Presente a cor marcante, a luz cristalina e o despojamento progressivo que caracteriza a fase baiana do artista. Utilizando faixas de cor, que se alongam de um lado a outro da tela, Pancetti pinta a areia com seus diferentes tons, a espuma, o mar, a linha do horizonte, o encontro de céu e mar, as nuvens rosadas e o azul do ar.

Estilos de pinturas

Marinhas

Pancetti pintou por toda vida, aumentando significativamente sua produção a partir de 1946, quando foi reformado da Marinha. A partir de então, o mar, que já era fundamental na sua produção, torna-se cada vez mais importante.Seu percurso estético  é marcado por uma progressiva geometrização, e pela importância que a cor vai ganhando sobre a forma, até tornar-se protagonista quase absoluta das composições. À beira d’água ele pinta ocres, rosas e violetas do pôr-do-sol. O encontro entre o mar e a areia torna-se mais e mais constante, e, nesse processo, Pancetti reduz ao mínimo a forma, tornando-se quase abstrato. 

Retratos

Os retratos são notavelmente únicos, ao contrário dos seus contemporâneos, que aceitavam encomendas para retratar membros da sociedade, o artista sempre optou por retratar pessoas comuns, com as quais se identificava, fazendo exceções para amigos escritores ou músicos.

Naturezas-Mortas

As naturezas-mortas destacam-se na arte brasileira, influenciadas por Van Gogh e Cézanne, mas com características próprias desde o início. Com o tempo, o artista ousa mais, criando verdadeiras obras-primas em um tema que se adapta perfeitamente à sua produção estática. Suas composições híbridas mesclam frutas, flores, quadros e figuras em enquadramentos incomuns, oferecendo uma perspectiva única e uma superposição de elementos. Nessa aparente simplicidade, Pancetti estabelece uma sofisticada metalinguagem, onde a pintura discute sobre a própria pintura.

Paisagens

Pancetti, conhecido por retratar o que estava próximo a ele, começou pintando barcos, arsenais e galpões da Marinha. Sua transição para paisagens urbanas revelou um sentimento de desconforto, com figuras humanas pequenas e oprimidas entre edifícios e ruas vazias. No entanto, seu contato com a natureza durante viagens pelo Brasil trouxe uma sensação diferente, capturando a luz, água, céu e vegetação de cada local. Suas obras apresentam cores sutis, formas reduzidas e cortes marcantes, demonstrando uma modernidade distinta de seus contemporâneos.

Bahia

A mudança para a Bahia, na década de 1950, modificou a personalidade e a obra de Pancetti, a alegria tornou o artista mais doce, e ele explodiu em cores quentes e fortes. As marinhas tornaram-se intensas e plenas de luz, e seu amor pela cidade perpetuou a linda Salvador da época. Pancetti chegou num momento especial, pois, na recém fundada Universidade da Bahia ministravam aulas intelectuais da mais absoluta vanguarda como: Koellreutter, Lina Bo Bardi, Yanka Rudzka e Martim Gonçalves. Em consonância com essa efervescência, artistas plásticos como Mario Cravo Jr., Genaro de Carvalho, Carybé, Rubem Valentim e Agnaldo dos Santos construíam uma marcante visualidade da Bahia. Assim, o artista circulou entre o mundo sagrado de Mestre Didi, as sensuais narrativas de Jorge Amado e o som de Dorival Caymmi, celebrando ao violão a beleza e o poder de Iemanjá, senhora das águas e rainha do mar.

Curadoria: Denise Mattar

Como curadora independente realizou mostras retrospectivas de Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho (Prêmio APCA), Ismael Nery (Prêmios APCA e ABCA), Pancetti, Anita Malfatti, Samson Flexor (Prêmio APCA), Frans Krajcberg, entre outras. As mostras temáticas: Traço, Humor e Cia, O Olhar Modernista de JK, O Preço da Sedução, O’ Brasil, Homo Ludens, Nippon, Brasília – Síntese das Artes, Tékhne e Memórias Reveladas, (Prêmio ABCA), Pierre Cardin, Mário de Andrade, Projeto Sombras, No Balanço da Rede, Duplo Olhar.

Serviço:

Exposição Pancetti: O mar quando quebra na praia…

Onde: Instituto Ricardo Brennand (Alameda Antônio Brennand, S/N-Várzea)

Quando: De 11 de dezembro de 2024 a 16 de março de 2025

Funcionamento: De terças à domingo / dezembro das 13h às 17h horas / janeiro das 10h às 17h (última entrada às 16h30.

Ingressos: No site do Instituto Ricardo Brennand (http://www.institutoricardobrennand.org.br) e na bilheteria local.

Informações: (81) 2121-0365/0334

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