Depois da declaração do presidente Lula (PT) sobre o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino (PSB), ser comunista, o que fica é a dúvida de qual foi o cálculo de Lula ao soltar essa. Qual foi a estratégia? Com a experiência política de Lula é impossível que ele tenha dado uma declaração tão polêmica sem ter em mente um objetivo muito claro.
“Vocês não sabem como eu estou feliz. Pela primeira vez na história, nós conseguimos colocar na Suprema Corte deste País um ministro comunista, o companheiro da qualidade do Flávio Dino”, disse Lula durante a abertura da 4ª Conferência Nacional da Juventude, realizada nessa quinta-feira (14/12), em Brasília.
Vários analistas e comunicadores disseram que foi uma piada, ou um deboche, talvez uma revanche, já que na vez do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de indicar um nome ao STF ele se referiu ao ministro André Mendonça, seu indicado, como “terrivelmente evangélico”.
Esta colunista acredita pouco na tese do deboche ou da revanche. Lula sabia que ao dizer “colocamos um comunista na Suprema Corte” o vídeo seria recortado e espalhado nas redes bolsonaristas e talvez seja exatamente o que ele queria.
Explico. Qualquer candidato que queira competir minimamente nas próximas eleições presidenciais, em 2026, terá que dialogar com os dois lados da polarização política atual do Brasil. Massificar a imagem de comunista de Flávio Dino, sobretudo para o público bolsonarista, deixa mais difícil para ele fazer o caminho de volta para a política, caso resolva deixar o mundo jurídico, como já fez outrora, e sair candidato.
Hoje Flávio Dino tem dito que não vai fazer esse bate e volta e que ao assumir no STF vai deixar de lado o seu perfil político. Mas muitos analistas não acreditam nisso e contam com a volta dele um dia para os palanques, onde foi bem-sucedido, já que venceu duas eleições como governador do Maranhão e conta com uma rede de simpatizantes na internet.
Entretanto, com uma figura como Lula, que é o “chefe” da esquerda brasileira, lhe atribuindo o estereótipo de comunista, fica mais difícil dialogar fora da bolha. Flávio Dino nunca negou ser comunista e assim se definiu muitas vezes. Mas falava sempre para um público de esquerda, pois ainda não tinha tido o nome ventilado como presidenciável, o que exigiria mais moderação.
Mesmo sabendo que também seria chamado de comunista ao taxar assim Flávio Dino, já que foi ele quem o indicou ao STF, Lula assumiu o risco, pois tem toda uma máquina para trabalhar em seu favor durante os próximos três anos a aproximação com o público bolsonarista.
Enquanto Dino se afasta da política voltando ao meio jurídico, e se distancia do eleitorado de direita e extrema direita com a pecha de comunista, Lula continua comandando a política no País e começa a ensaiar uma conversa com novos públicos. A propaganda de final de ano do governo já fala em país pacificado, o que não é exatamente uma verdade. Mas Lula tem a máquina estatal e mais três anos para buscar esse eleitorado bolsonarista. Claro que os mais radicais não virão. Mas uma parte pode se aproximar do presidente, sim, dependendo do discurso adotado, dos gestos feitos, enfim, da estratégia.
Chamar Flávio Dino de comunista pode ter sido uma piada de Lula, mas foi também (e muito mais) parte de uma estratégia voltada para afastar qualquer “sombra” para 2026. É o jogo (pesado) do PT.
Dobradinha Porto/Campos
Nos bastidores da política no Recife, só deu Álvaro Porto (PSDB) e João Campos (PSB) essa semana. É que Porto, como presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, telefonou para João Campos pedindo ajuda para destravar a pendenga da redistribuição do ICMS para os municípios. O projeto era da governadora Raquel Lyra (PSDB) e enfrentava dificuldade para ser aprovado, pois os deputados reclamavam que alguns municípios iriam perder dinheiro. Álvaro pediu e João Campos cedeu R$ 7,5 milhões do Recife para 23 cidades menores. Ficou uma dobradinha que acabou deixando os dois desafetos de Raquel bem na fita.
Eleições 2024
A especulação no meio político aponta o secretário de Turismo de Pernambuco, Daniel Coelho (Cidadania), como pré-candidato a prefeito do Recife apoiado por Raquel Lyra. Seria o nome da governadora para enfrentar João Campos em 2024. A movimentação de Daniel nas redes sociais já indica essa escolha. Ele tem aparecido mais e tem tentado mostrar um lado descontraído e leve. Essa semana, apareceu no Mercado de São José comprando sandálias de couro para Raquel e Priscila Krause (Cidadania).