Mais de 20 anos de dedicação à pesquisa na área das ciências agrárias, com foco na gestão do risco climático, nos impactos das mudanças climáticas, no gerenciamento dos recursos hídricos e na aplicação de tecnologias para o desenvolvimento de sistemas de alerta para o setor agropecuário. Esta é a trajetória acadêmica de Thieres George Freire da Silva, Pró-Reitor de pesquisa e Professor associado da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), condecorado com o Prêmio Fundação Bunge 2025, no tema “Gestão do risco climático na produção de alimentos”, na categoria Vida e Obra. Inspirada no Nobel, a premiação que completa 70 anos em 2025 condecora personalidades que contribuem de forma significativa para o desenvolvimento social, cultural e científico do Brasil.

Com cerca de 1000 produções científicas, das quais mais de 300 são artigos publicados em periódicos de destaque, Thieres tem desenvolvido estudos que geram impactos positivos no semiárido brasileiro. Além disso, o pesquisador também se dedica a formar novos talentos, tendo orientado mais de 120 alunos nos níveis de graduação e pós-graduação. “Eu sempre vi na educação e na pesquisa a possibilidade de mudar a vida”, afirma.
A paixão do engenheiro agrônomo formado pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB) pela Agronomia surgiu ainda em Petrolina (PE), sua cidade natal, devido à profissão de seu pai e de um tio, ambos agricultores. “Eu decidi fazer agronomia em 1999 porque o que eu tinha de mais próximo de mim, na época, era a agricultura. Prestei vestibular e iniciei o curso de agronomia em 2000, na Uneb”, lembra. “. Em 2000, prestei de novo e passei no curso de Agronomia na UNEB“, lembra. “Cursei agronomia, fiz iniciação científica, e fiz vários estágios na Embrapa, em agrometeorologia, que é a área que estuda o efeito do clima sobre a produção das plantas e dos animais”.

Concluída a graduação, Thieres buscou aprofundamento acadêmico em meteorologia agrícola, na Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde cursou mestrado, tendo como tema de dissertação o zoneamento agroclimático do estado da Bahia para a cultura da atemóia, visando auxiliar produtores, pesquisadores e demais técnicos interessados no cultivo da fruta, além de definir parâmetros para políticas de financiamento e ações de investimento para essa cultura no Estado. Ainda na UFV, o pesquisador seguiu para o doutorado, cuja tese teve como objetivo estudar os padrões de crescimento, interação biosfera-atmosfera e eficiência do uso de água da cana-de-açúcar irrigada no Submédio do Vale do São Francisco.
Em 2009, o pesquisador prestou concurso e começou a atuar como professor no campus de Serra Talhada da UFRPE, em 2010, o que diz ter sido um divisor de águas em sua carreira. “Aqui, no Semiárido, há uma demanda alta por acesso à educação de qualidade e a oportunidades”, observa. Sensível à realidade local, se dedicou a criar oportunidades para seus alunos, muitos dos quais, antes bolsistas de iniciação científica cujos valores superavam a renda familiar, hoje são doutores e professores universitários. “Tudo o que eu ganhei foi por causa do estudo. Então, chegar aqui e poder dar oportunidades foi muito bom”, conta.
Thieres também destaca a questão do clima de Serra Talhada. “Eu saí da realidade de onde eu nasci, de Petrolina e Juazeiro, que é região agrícola com irrigação, e vim para uma região em que fruticultura irrigada não existe. Aqui, o que se tem é criação de animais, a produção de vegetais para alimentar esses animais”, explica. “Como sou agrometeorologista, eu vim me especializar em pesquisas de sistemas resilientes, que suportam baixa quantidade de água e altas temperaturas, estudando várias culturas que, quando combinadas com diferentes manejos, permitem ao agricultor produzir alimentos para ofertar ao animal, aumentando sua qualidade para o abate”, adiciona.
Entre os episódios importantes de seu trabalho na UFRPE, Thieres destaca a doação de palma forrageira para a população local, que gerou um movimento de apoio à pesquisa e ao melhoramento genético animal. “Em 2020, produzimos muita palma em nossos experimentos, e elas começaram a estragar. Aí veio a ideia de doar para a população do entorno da Universidade. Além da doação, orientamos os moradores a plantarem a palma em suas terras, para alimentar seus animais”. Segundo ele, essa mudança acarretou o desenvolvimento de ações parlamentares para apoiar pesquisas de solo e melhoramento genético animal na região. “Cada vez mais os produtores têm consciência que o sistema tem que ser mudado, com os animais confinados, produzindo alimento para esses animais”.
Atualmente, Thieres integra a equipe do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em um projeto em rede para definir calendários agrícolas e áreas de risco para diversas culturas, sendo responsável pela coordenação de ações para a cultura da palma. A iniciativa envolve a proposição de novos métodos, a coleta de dados técnicos sobre as culturas, a modelagem e a criação de bancos de dados de clima e solo. Todo esse esforço converge para a criação e constante atualização do Zoneamento de Risco Climático (ZARC), uma ferramenta vital que identifica os períodos de menor risco para o plantio em diferentes regiões, considerando as variações climáticas.
O ZARC, por sua vez, é amplamente utilizado pelo Governo Federal e por agências financiadoras, tanto públicas quanto privadas, para a subvenção econômica ao Seguro Rural e ao Prêmio Rural, garantindo apoio financeiro aos produtores que seguem as recomendações, protegendo-os de perdas climáticas. Dentro desse escopo, há um foco particular na cultura da palma forrageira, uma alternativa alimentar para o gado em períodos de estiagem, que contribui para a sustentabilidade da pecuária na região.
O professor ainda lidera o Grupo de Agrometeorologia no Semiárido (GAS), direcionado à pesquisa, ensino, extensão e inovação na região, e é mentor do SERVAgro, um sistema de otimização do uso da água e redução do risco climático para o setor agropecuário. Também é membro do Conselho de Administração do Instituto Agronômico de Pernambuco e contribui como consultor de diversas instituições de fomento à pesquisa.
Para ele, a premiação da Fundação Bunge é um reconhecimento à sua trajetória, mas também um incentivo para que continue a trilhar o caminho da inovação e da transformação social. “O que fez eu ficar muito feliz com o recebimento do prêmio foi que eu nunca tive isso como foco. Isso veio por fruto de tudo que eu desenvolvi”, conclui. Sua história é uma prova de que, mesmo em contextos de desafios, como o semiárido brasileiro, é possível transformar a realidade por meio da ciência, do conhecimento e do compromisso com o bem-estar da sociedade.