Na próxima quinta-feira (8), a partir das 19h, o artista Pietro Severi abre a exposição Dualidades, sua primeira individual, na Sala da Frente Arte e Galeria, no Poço da Panela. Com curadoria de Bruna Pedrosa, a mostra apresenta 31 telas do jovem artista que celebram as dualidades do bairro onde ele vive há 15 anos.
As obras apresentadas começaram a ser produzidas há cerca de cinco anos, quando Severi começou a explorar o bairro em longas caminhadas. “Todas as impressões que fizeram nascer esse projeto começaram na beira do rio. Quando meus filhos nasceram eu comecei a sair com eles bem cedo para caminhar pelo bairro. Todas as vezes que eu me aproximava do Capibaribe notava que eles se acalmavam e ficávamos por ali, contemplando. Essas paisagens, essa vista, eu fui levando para os meus trabalhos”, lembra.
Esse foi o ponto de partida para o primeiro bloco de telas que têm o rio e suas margens como protagonistas. Ao olhar para o Capibaribe e levá-lo para suas obras, Severi trabalha a questão da transitoriedade, do rio como um elemento nada estanque, como uma grande passagem. Ele também percebeu que esse mesmo rio que reflete a passagem da vida, do tempo, também pode ser visto com um divisor de realidades.
Em vários trechos, fica evidente as diferenças entre a paisagem da margem do Poço da Panela e daquela que dá para a Iputinga. “No Jardim Secreto, eu me deparava com aquele barqueiro, que faz a travessia entre as margens, faz essa passagem. Vi ali duas realidades distintas. Desse modo, as obras começaram a trazer sempre essa ideia de dualidade, o Poço é um bairro cheio de dualidades e isso foi se impondo no trabalho. Daí o nome da mostra”, explica.
Nesse processo, outros elementos do bairro, para além do Capibaribe, foram retratados pelo artista. No Poço, coexistem os casarios antigos e os traços retos de casas e edifícios modernos; o rural e o urbano cruzam as suas ruas em carros contemporâneos e carroças; as casas com varandas ventiladas e vista para as copas das árvores e aquelas cravadas na beira do rio, que segue sendo, até hoje, garantidor de subsistência de seus moradores; o sagrado expresso nas procissões e na Igreja de Nossa Senhora da Saúde e o profano com os festejos carnavalescos e juninos que ocupam o mesmo pátio, ponto de encontro do bairro; os moradores mais velhos que se reúnem no fim do dia na famosa venda de Seu Vital e as crianças que ainda conseguem brincar na rua neste bairro dessa grande metrópole que é o Recife.
Como uma espécie de flâneur, Severi cruza as ruas do seu bairro, se relaciona com a comunidade que ali vive e volta para seu ateliê abastecido para criar essa acervo de telas a óleo que, juntas, formam um grande documento visual sobre esse bairro da cidade tão vivo e rico culturalmente e, talvez por isso, tão querido por tantos artistas, músicos, escritores.
“A transitoriedade da vida e a passagem do tempo são temas centrais nas obras. A cada pintura, há uma sensação palpável de mudança — seja através da luz que se altera ao longo do dia, seja pela transição de paisagem das margens do rio Capibaribe ou pela própria movimentação dos moradores. Cenas de homens jogando dominó em uma mesa de bar, crianças brincando na rua, agremiações carnavalescas e procissões captam a vida no bairro em suas várias facetas”, escreve a curadora Bruna Pedrosa.
Pietro começou a se dedicar à pintura há pouco mais de uma década. Começou fazendo o curso com Plínio Santos Filho, no próprio bairro do Poço da Panela, e depois seguiu seus estudos com o pintor Roberto Ploeg. Em 2017, passou uma temporada na Itália, onde estudou no The Florence Academy of Art.
“Pietro estuda muito, acumula conhecimento da história da arte e pinta sempre”, destaca Ploeg, que continua: “Além das questões mais técnicas e corriqueiras de qualquer pintura realista como, por exemplo, composição, perspectiva, anatomia, cores e tonalidades há o desafio maior de criar uma chamada poética pessoal numa pintura figurativa que tenha potencial de comunicação. Nesse sentido, Pietro reflete bastante sobre o conceito do seu trabalho e o embasamento de sua temática. Ele tem consciência do seu lugar hermenêutico, da sua classe social e procura dar um direcionamento para suas criações pictóricas”, diz Ploeg.
Dualidades segue em cartaz até 6 de setembro. No dia 17 de agosto, sábado, às 15h30, acontece uma mesa-redonda para debater o processo de produção de Severi. No sábado seguinte, dia 24, ocorre uma visita mediada também às 15h30.