Recentemente, o tema “relacionamento abusivo” foi alvo de debate dentro e fora da casa mais vigiada do país, o Big Brother Brasil 2023, reavivando uma discussão que não é nova na sociedade, mas que ainda precisa ser muito discutida e alertada. Mas afinal, o que caracteriza um relacionamento abusivo? Só os relacionamentos amorosos podem ser considerados tóxicos? E como sair deste tipo de relação?
De acordo com o psicólogo e professor do curso de Psicologia da Estácio, Thiago Lacerda, os principais sinais de um relacionamento abusivo da parte do abusador incluem o uso de violência física, ameaças, tentativa de exercer o controle sobre a vida do parceiro, abuso emocional, ciúme excessivo e tentativa de afastar a vítima do convívio social com pessoas importantes (família e amigos). “Da parte da vítima, observamos as mudanças de comportamento, podendo apresentar também medo, ansiedade, isolamento, dificuldade para tomar decisões, diminuição da autoestima, entre outros”, explica.
Segundo o especialista, a comunicação verbal também configura abuso. “A violência não é apenas física, ela pode ser verbal, psicológica. A forma de falar, a entonação, as palavras usadas e os argumentos do abusador podem cumprir a função de levar a vítima para as mesmas mudanças de comportamento que a violência física”, completa, reiterando que este é um problema social e que resulta da herança machista sob a qual construímos nossa cultura.
“Temos uma herança cultural machista na qual a mulher seria totalmente submissa à vontade do homem. Essa herança negativa promove situações que normalizam abusos cometidos por homens e faz com que mulheres se sintam culpadas por suas ações. Essa é uma herança que vem sendo debatida, questionada e temos tentativas de superação que estão avançando”, aponta Thiago, esclarecendo ainda que nem só os relacionamentos amorosos têm potencial para serem abusivos.
“Um relacionamento não amoroso também pode ser abusivo. O abuso não é limitado a relacionamentos românticos e pode ocorrer em qualquer tipo de relação, incluindo amizades, vínculos familiares e relacionamentos de trabalho. O abuso pode incluir comportamentos como manipulação, coerção, intimidação e violência. É importante reconhecer e se afastar de desse tipo de relação”, afirma.
Segundo o psicólogo, um relacionamento abusivo pode ter efeitos graves e duradouros na saúde mental e física de uma pessoa. Alguns dos reflexos mais comuns incluem:
1. Ansiedade e depressão: viver em um ambiente constante de medo e insegurança pode levar a problemas de saúde mental como ansiedade e depressão;
2. Problemas de autoestima: o abuso verbal e psicológico pode minar a autoestima de uma pessoa e fazer com que ela acredite que merece ser tratada de forma abusiva;
3. Dificuldade de confiar nas pessoas: depois de passar por um relacionamento abusivo, uma pessoa pode ter dificuldade de confiar nas pessoas e estabelecer relacionamentos saudáveis no futuro;
4. Problemas de saúde física: o estresse crônico e a violência física podem levar a problemas de saúde, como dores de cabeça, problemas de sono e problemas de saúde geral;
5. Trauma: a exposição a eventos traumáticos pode causar transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e outros problemas relacionados ao trauma.
Mas como é possível sair de um relacionamento abusivo e a quem recorrer? Segundo o coordenador do curso de Psicologia da Estácio Recife, esse movimento pode ser difícil e perigoso, e é importante planejar cuidadosamente antes de tomar qualquer ação.
“Algumas dicas para sair de um relacionamento abusivo incluem reunir documentos importantes, como carteiras de identidade, certidões de casamento ou divórcio, registros médicos e financeiros etc.; planejar um lugar seguro para ficar, como com um amigo ou parente, ou em um abrigo para vítimas de violência doméstica; informar amigos e familiares de seus planos e pedir ajuda; se possível, informar a polícia e fazer um registro de ocorrência; consultar um advogado para entender seus direitos e como protegê-los; e buscar ajuda de profissionais especializados, como psicólogos e assistentes sociais, que podem ajudá-lo a lidar com os efeitos do abuso e planejar a segurança”, explica.
O psicólogo lembra ainda que sair de um relacionamento abusivo é um processo demorado e que é importante ter paciência e ser gentil consigo mesmo. “Não hesite em buscar ajuda e lembre-se que você não está sozinho e não é responsável pelo comportamento do abusador”, finaliza.